23 novembro 2012

O Pequeno Scott


As pessoas sempre brincavam que havia algo de errado com ele, algo desumano. Eles brincaram com isso muitas vezes, zombando de seus poderes psíquicos malucos... De como ele retia sua agressividade dentro de si.

Eles não sabiam como estavam certos.

A primeira coisa que alguém notava em Scott eram seus olhos ou pelo menos, o fato de que era difícil vê-los. A aba do chapéu que ele nunca tirava deixava uma sombra muito densa e grossa. Alguns até se perguntavam se ele tinha olhos.

A próxima coisa que se notava era sua boca, na verdade a falta dela. Era vermelha, mas era tão fina que não se viam seus lábios nitidamente, era praticamente uma linha traçada em seu rosto. Às vezes, ele dava um meio sorriso, e às vezes ela parecia plana e não parecia haver uma boca lá.

Ninguém nunca ouvira a voz de Scott. Algumas pessoas disseram que ele era mudo, alguns que ele simplesmente optou por não usar sua voz.

Outro fato curioso era o tamanho de Scott, ele devia ter uns 2 metros de altura, realmente era uma altura bem esquisita para um rapaz de 17 anos. Muitas vezes seu ar misterioso o rendia muitas admiradoras, mas elas sempre fugiam, quando ele chegava perto o bastante.

Um garoto como Scott atrai rumores como um ímã ao metal. O mais inacreditável eram os boatos, o que as pessoas contavam sobre o que haveria á espreita por trás de seu silêncio.

Mas os rumores eram ás vezes exagerados, Scott ainda era um bom menino, mas diziam que ele era o mal, um demônio, um fantasma. Diziam que se você andasse sozinho á beira das estradas, perto da floresta você sentiria como se ele estivesse junto á você.

O mais cruel dos boatos é que ele gostava de maltratar crianças pequenas ou pior... “Eles são fáceis de assustar, eles não podem se defender”. Diziam os fofoqueiros.

Mas Scott não desmentia nada, não retrucava, ele não falava! Mas todos viam naquele sorriso torto, a sua verdadeira opinião, ele achava as criancinhas, deliciosas.

Muitos falavam já ter visto seus olhos e diziam que eram vermelhos como sangue, uma cor tão líquida e profunda que poderia fazer uma pessoa se perder. Seu sorriso largo, tão largo que você se sente caindo de cabeça para dentro daquela boca.

Mas uma garota chamada Samanta, que sempre foi muito exagerada e assustada, com aqueles óculos fundo de garrafa, me disse uma vez:

“Eu estava voltando do parque quando vi Scott entranhado na escuridão, ele estava lá parado apenas me olhando, mas tive a impressão de que ele sussurrou algo, algo que eu nunca queria ter ouvido, ele dizia ‘venha até mim garotinha’, e foi então que eu sai correndo!!”

Sabe, eu sou um garoto de apenas 11 anos, mas sei que o Scott nunca faria algo assim... E isso não tem nada haver com eu ter uma admiração intensa por ele...

Mas vou contar para vocês o que aconteceu quando tive a oportunidade de estar com ele pela primeira vez:
Eu estava em uma praça perto do colégio, já estava anoitecendo então resolvi voltar para casa, foi então que vi o Scott, ele sempre me fascinou com aquela altura, e tamanho mistério que havia envolvido nele, ele estava ali parado como se fosse um dos galhos das arvores, era bizarro, mas continuando, ele de inicio não havia me visto creio eu, mas então ele me viu ali na ponta da praça olhando com curiosidade para ele, ele então começou a se aproximar, e eu comecei a sentir medo dos boatos serem verdadeiros.

Ele chegou bem perto de mim, muito perto, de modo que pude ver sua boca nitidamente, ele começou a abri-la e deu um sorriso assustador para mim, como se estivesse realmente feliz por eu estar ali... Eu corri.

Então quando olhei para trás ele estava atrás de mim, me alcançando facilmente com suas pernas gigantes, mas como sou desajeitado, eu tropecei no começo da rua de paralelepípedos, e cai, ele já estava bem encima de mim quando me virei vi sua boca se transformando em um buraco que parecia estar pingando sangue. Sua boca que não parava de se abrir deixando seu rosto desfigurado e longo, eu sabia que aquele seria o meu fim, mas eu pedi, por favor, pelo amor de Deus e por tudo que é mais sagrado com os olhos bem fechados esperando ser engolido...

Então, ele sussurrou algo... Algo que eu não queria ter ouvido...

“Você é uma criança deliciosa...”.

Eu abri os olhos para ver exatamente o que estava acontecendo, e ele estava muito mais magro, parecia que ele tinha mais de dois braços, eu estava preso ao chão como em uma gaiola...

Não havia nada dentro de sua boca, alem de dentes pontiagudos.

Eu então senti minha cabeça sendo sugada... Para dentro deste abismo. Eu estava prestes a deixar de existir.
Então, de repente, a boca estava fechada, não fechada completamente ou perfeitamente ela tinha uma forma esfarrapada ou quase como se fosse costurada. Seus olhos permaneceram fixos em mim, e sua boca formou um meio-sorriso... Ele havia decidido me deixar viver, talvez para passar a lição á diante de não perturba-lo.
Depois disso lembro-me de correr tão rápido quanto minhas pernas já me carregaram...

Se você acha que eu escapei, você está completamente enganado.

Eles me chamavam de louco... Dizem que meu rosto é misterioso e doentio agora, e eu não discordo. Essa não é só minha história, e eu duvido que eu seja a única pessoa á quem ele fez isso.

Eu nunca vou conseguir de volta o que aquela boca me roubou...

Eu nunca mais serei capaz de olhar para a escuridão sem imaginar aquele abismo que quase me consumiu.

E eu nunca vou mais serei capaz de olhar para alguém sem querer sussurrar o quanto eles me parecem deliciosos... E ir em direção deles para engoli-los, só para ouvir seus gritos e sua voz...

Até tudo estar em silêncio...


Nenhum comentário:

Postar um comentário